As múltiplas funções exercidas por quase 570 médicos deram nome à tese de doutorado “Mande chamar o doutor! A presença dos médicos no Vale do Paraíba Fluminense (1840-1880)”. O trabalho de pesquisa, reunido em 370 páginas, assegurou a obtenção do grau de doutora e a conquista de um prêmio à Anne Thereza de Almeida Proença, doutora em História da Ciência. Ela ficou com o primeiro lugar do Prêmio CNJ da Memória do Judiciário na categoria III – Trabalho Acadêmico e Científico, edição de 2023.
Aluna do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Fiocruz, Anne Thereza de Almeida Proença destacou o papel dos médicos nas dinâmicas sociais e na construção e expansão do campo da saúde no Vale do Paraíba Fluminense. Entre os documentos consultados, a pesquisadora fundamentou o trabalho em dados sob a guarda de arquivos de tribunais.
“Essa base de documentos é considerada um bem cultural do Poder Judiciário”, justificou a comissão avaliadora ao selecionar a tese de Anne Thereza. Ao longo do trabalho, a pesquisadora demonstrou que os médicos passaram a se integrar às dinâmicas locais e a ocupar importantes espaços na sociedade.
Ao acompanhar os modos de inserção tanto profissional quanto pessoal dos clínicos, a autora pôde compreender como funcionam as dinâmicas do grupo selecionado. “Isso revelou a importância e o modo que se construíam as redes de contato, que faziam do Vale do Paraíba Fluminense um espaço de características sociais singulares, desenvolvidas a partir do patamar que ocupou na economia e na política do Império brasileiro do século XIX”, registrou.
O trabalho ressaltou as formas de organização da assistência à saúde no interior do estado do Rio de Janeiro e as estruturas sociais existentes na região. “À época, a presença dos médicos era um dos novos costumes considerados civilizados e que deveriam ser incorporados pela população”, ressalta Anne Thereza.
Por meio do estudo da carreira desses profissionais, a autora observou similaridades nas suas trajetórias, identificando tendência de comportamento mais ampla, que determinava a etiqueta a ser seguida pelos membros desse grupo acadêmico e que ultrapassava os limites físicos do interior da Província do Rio de Janeiro.
Conhecimento
Assim, a tese defendida pela aluna, que incluiu consulta a documentos guardados em tribunais, contempla os objetivos do Prêmio CNJ da Memória do Judiciário. São eles: promover a conscientização e a reflexão dos integrantes do Poder Judiciário e da sociedade quanto à necessidade de conhecimento e valorização da História, da Memória e do Patrimônio Cultural; reconhecer e disseminar boas práticas voltadas à conservação, preservação, restauração, valorização e difusão de bens culturais; estimular a eficiência, a inovação e o trabalho colaborativo nos Espaços de Memória do Poder Judiciário.
A segunda edição do Prêmio CNJ Memória do Poder Judiciário foi outorgada em 12 de maio de 2023, no III Encontro Nacional de Memória do Poder Judiciário realizado em Porto Alegre/RS. O reconhecimento foi instituído pela Resolução CNJ n. 429, de 20 de outubro de 2021, e regulamentado pela Portaria CNJ n. 305 de 25 de novembro de 2021.
O prêmio é dividido em sete categorias: I – Especial; II – Difusão cultural e direitos humanos; III – Trabalho acadêmico ou científico; IV – Patrimônio cultural arquitetônico; V -Patrimônio cultural arquivístico; VI – Patrimônio cultural bibliográfico; e VII – Patrimônio cultural museológico. A outorga da premiação ocorre na semana em que é comemorado o Dia da Memória do Poder Judiciário, em 10 de maio.
Assim, a premiação da terceira edição desse reconhecimento está marcada para o período entre os dias 7 e 10 de maio. Os ganhadores serão conhecidos durante o IV Encontro Nacional de Memória do Poder Judiciário (Enam), a ser realizado no Tribunal Regional do Trabalho da 2.ª Região (TRT-2), em São Paulo.
Texto: Margareth Lourenço
Edição: Beatriz Borges
Agência CNJ de Notícias