André Luiz luta por dignidade e respeito. Plinio quer trabalhar. Paulo Roberto busca benefícios sociais. Patrícia planeja voltar para casa. Histórias e objetivos diferentes, mas que dependem de um documento básico nas mãos: a certidão de nascimento.
“O documento é o ponto de partida para a obtenção dos demais e o reconhecimento da pessoa como cidadã”, resumiu o corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, na abertura da 2.ª Semana Nacional do Registro Civil: Registre-șe!, na manhã desta segunda-feira (13/5), na Praça da Sé, em São Paulo.
O evento, organizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e unidades de todo o Poder Judiciário, promove um mutirão por todo o país para erradicar o sub-registro civil de nascimento e visa ampliar o acesso à documentação civil básica da população, em especial a socialmente vulnerável. A expectativa dos organizadores é atender cerca de 3 mil pessoas por dia.
“O diferencial desse evento é porque concretiza uma política pública que destaca o atendimento e a prestação de serviços a quem mais precisa. É o Judiciário cumprindo seu papel de aproximar-se das necessidades da população”, destacou o ministro.
O início das atividades contou com rápida cerimônia no auditório do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Dali, o ministro Salomão e uma comitiva de autoridades seguiu a pé para a Praça da Sé, em frente ao TJSP. Entre eles, o conselheiro José Rotondano. “Nosso trabalho aqui é mostrar a atuação do Poder Judiciário de forma ativa, auxiliando pessoas que precisam sair da vulnerabilidade e retomar o trabalho e a vida, com acesso pleno aos serviços públicos”, explicou o conselheiro.
As autoridades acompanharam o trabalho de voluntários e a prestação de serviço por mais de 30 diferentes instituições que ofertaram às pessoas em situação de vulnerabilidade regularização de documentos, inclusão em programas sociais, orientações jurídicas, atendimento de saúde e alimentação, entre outros serviços.
Para o presidente do TJSP, desembargador Fernando Antonio Torres Garcia, o evento celebra “a festa da cidadania, com o Estado reconhecendo o direito de todos”. Já o presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil, Gustavo Fiscarell (Arpen Brasil) disse que, “conferir cidadania faz parte do dia a dia do registrador civil, mas em eventos como esse, em que nos unimos a outras instituições com propósito, podemos também externar a fraternidade e a união”, falou.
Mutirão
Na praça da Sé, em poucas horas, mais de 300 pessoas aguardavam atendimento nos estandes montados pelas instituições dos poderes públicos e organizações da sociedade civil. O cozinheiro André Luiz Soares, 47 anos de idade, foi tirar a segunda via dos documentos que foram roubados. Há cinco anos em situação de rua, ele saiu de casa por conflitos familiares. “Quero conquistar meu lugar ao sol e a minha dignidade”, assegurou.
Em busca de trabalho, Plinio de Campos, 36 anos de idade, viu, na ação na Praça da Sé, a oportunidade para organizar a vida. “Sem documento a gente não é ninguém”, afirmou.
À espera de obter benefícios por invalidez, Paulo Roberto dos Santos, 50 anos de idade, foi atrás da certidão para fazer a solicitação ao INSS. Ele sofreu um acidente de trabalho e luta pelos direitos.
Já a curitibana Patrícia, 49 anos de idade, que não quis falar o sobrenome, quer voltar para casa, após perambular por São Paulo. “Pode ser que eu volte hoje mesmo”, disse enquanto aguardava a emissão do documento.
Recomeços
No período da tarde, a comitiva esteve na Penitenciária José Parada Neto I, em Guarulhos (SP). No local, foram entregues certidões a pessoas privadas de liberdade que estão próximas do fim do cumprimento da pena.
“É uma necessidade do sistema prisional reintegrar socialmente e plenamente esses cidadãos em trabalho e estudo para que tenham uma nova chance. E esse recomeço passa pela documentação”, destacou o secretário estadual da Administração Penitenciária, Marcello Streifinger.
Presente na cerimônia, o juiz auxiliar da presidência e coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF/CNJ), Luís Geraldo Lanfredi, entregou o registro a uma das pessoas. “Isso não é só um papel, é um passaporte para sua autonomia”, citou.
“Daqui para frente é isso, um novo ciclo na minha vida e eu fico muito feliz de ter esse documento em mãos para poder seguir em frente”, ressaltou Carlos G., de 31 anos de idade, ao receber a certidão.
Registre-se!
O Registre-se! é promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em todo o país até a sexta-feira (17/5). A ação é voltada para inclusão social e para a ampliação do acesso à cidadania possibilitando a expedição de RG, CPF, certidões (nascimento, casamento e óbito), entre outros documentos. Neste ano, além dos indígenas, as atividades destacam o atendimento às pessoas privadas de liberdade, em especial, indivíduos em processo de reintegração após deixarem o sistema prisional.
No momento, apenas o Rio Grande do Sul não participa das atividades que prosseguem até a sexta-feira (17), devido às enchentes que assolaram o estado. Lá, magistrados, servidores e voluntários montaram uma força-tarefa para atender a quem perdeu todos os documentos desde a última quarta-feira (8/5).
Acesse mais imagens do lançamento ação em São Paulo no Flickr do CNJ
Texto: Margareth Lourenço
Edição: Taciana Geisel e Jonathas Seixas
Agência CNJ de Notícias