Embora pareça improvável, o sistema carcerário, a iniciativa privada e a gestão pública possuem algo em comum: todos precisam buscar soluções inovadoras para lidar com demandas complexas. A partir dessa premissa, o Fórum da Comarca de Lucas do Rio Verde (MT), em parceria com a prefeitura municipal, a Empresa RE Blocos, o Ministério Público e o Conselho da Comunidade se uniram em um projeto social que resgata a dignidade de reeducandos da região e gerar renda.
Para o “Trabalhando para a Liberdade”, há dois anos foi construído ao lado do Centro de Detenção Provisória (CDP) do município de Lucas do Rio Verde um complexo industrial com três galpões para a fabricação de artefatos de concreto. Mais do que um espaço dedicado à construção civil, o lugar tornou-se fonte de dignidade e esperança na vida dos recuperandos que vivem no CDP.
Encarregado da prefeitura de Lucas do Rio Verde, Mauro Ribeiro garante que os reeducandos dão muito mais valor ao trabalho do que funcionários comuns que ele já teve. “Eles são ótimos para trabalhar. Se deixar, querem trabalhar todos os dias. São muito dedicados. Tudo o que a gente pede no serviço eles fazem sem reclamar, e até com mais capricho. No começo, minha própria esposa não queria que eu viesse trabalhar aqui, por medo. Mas agora sei que é completamente seguro. Nunca aconteceu nenhuma tentativa de fuga ou briga nesses dois anos. Acredito que eles, em sua maioria, vão voltar a ser homens de bem”, disse.
Mauro conta que a parceria beneficia o orçamento da prefeitura. “A economia que a administração pública faz com o trabalho deles é enorme. Eles fabricam meio fio, togo, canaleta, caixa de passagem, gelo seco, floreiras de concreto e pavimentos, entre outros produtos, que podem ser vistos em todos os cantos da cidade. Só de blocos de concreto são 1,5 mil por dia. Para se ter uma ideia, um vaso de flor, que é usado nas praças da cidade, custa no mercado cerca de R$ 200. Com o trabalho dos reeducandos, a floreira sai por menos de R$ 30 para o município. A caixa de passagem, que antes era comprada por R$ 80, está saindo na faixa de R$ 15”, relatou.
Edemir é um dos recuperandos que trabalham no complexo. Preso há 4 anos e 4 meses com o pai e o irmão, ele afirma que o projeto é uma janela que se abre, quando todas as portas pareciam fechadas. “Para mim, isso aqui é uma grande oportunidade e sou muito grato por isso. Foi Deus que abriu essas portas para mim. Eu vivia mais no sofrimento. Hoje sofro menos e consigo pensar no futuro. Quando eu voltar para a sociedade, vou abrir meu salão de volta e tentar ser feliz do jeito certo”, declarou.
Para o idealizador da iniciativa, juiz Hugo José Freitas da Silva, ela demonstra que bons projetos são aqueles que têm a participação de todos os atores envolvidos e em que todos saem ganhando. “Na execução penal, não conseguimos trabalhar sozinhos, precisamos de parceiros que também tenham como objetivo preparar esses homens para voltar ao convívio social”, ressaltou.
Fonte: TJMT