Os moradores das comunidades quilombolas do Vão de Almas e Vão do Moleque participaram, nessa quarta-feira (21/8), das rodas antirracistas. A ação faz parte da programação da 27ª Semana da Justiça Pela Paz em Casa, que está sendo realizada em Cavalcante. Nesta quinta (21/8), as rodas de conversa serão realizadas nas comunidades de Tinguizal e Riachão.
No Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), a Semana Justiça Pela Paz em Casa é realizada pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar e, nesta edição, conta com a parceria da Coordenadoria da Infância e Juventude do TJGO, que também participa das rodas.
No Vão do Moleque, as rodas foram acompanhadas pelo juiz da comarca de Cavalcante, Leonardo de Souza Santos, que salientou a importância da iniciativa na região. Segundo ele, essas são oportunidades em que consegue reunir várias pessoas em um espaço de convivência e diálogo, quando os participantes compartilham suas experiências, seus anseios e histórias de vida.
“A iniciativa faz com que possamos refletir sobre o nosso papel como agentes no combate a violência contra a mulher e ao racismo, que são meios em que se perpetuam a desigualdade. Entendo que a violência de gênero não conhece fronteiras geográficas, sociais e culturais, então, é preciso pensar de maneira complexa essas questões. E esse é um dos objetivos que nos trouxeram aqui”, destacou o magistrado, que se emocionou durante sua fala.
Experiências
O professor da escola estadual Calunga I, Deimivon Rodrigues de Macedo, afirmou que o momento foi para adquirir conhecimento e trocar experiências. Já o morador da comunidade Vão das Almas, Anísio Pereira Dias, de 64 anos, lembrou durante a roda de conversa que todos são iguais e falar sobre os problemas é a melhor forma de tentar resolvê-los. “Sei que somos iguais, mas, às vezes, a gente se sente diferente e vocês trazerem para nós esse momento é bom demais. Cresci diferente do meu pai. Se os pais são violentos, os filhos não precisam ser. Família e amor andam juntos, ensinei isso para meus filhos”, relatou.
Valdir Fernandes da Cunha, de 37 anos, salientou que a paz em casa reflete na educação das crianças. “Eu, como professor, posso afirmar isso: quando se tem uma casa com paz, o rendimento dos alunos aumenta. O estudante chega mais preparado para o que temos para ensinar para eles”, frisou.
Tatiane Gabriel, de 16 anos, aluna do Colégio Calunga I, afirmou que gostou de participar das rodas de conversa. Segundo ela, apesar de já ter participado de outras, essa foi especial. “Não é a primeira vez que participo, mas o tema me chamou a atenção. Parecia que tudo que a mulher falava servia para mim”, disse.
Comunidades distantes
As rodas de conversas no Vão de Almas foram conduzidas pelas servidoras Morgana Santos e Lucelma Messias, da Coordenadoria da Mulher, e Valéria Faleiro, da Coordenadoria da Infância. Já no Vão do Moleque, pelas servidoras Daniele Rodrigues e Mara Cristina, da Coordenadoria da Mulher, e Carla Paiva, da Coordenadoria da Infância.
De acordo com Morgana Santos, realizar a Semana Justiça pela Paz em Casa associada com o projeto Raízes Kalungas em comunidades que ficam distantes dos grandes centros contribui para levar conhecimento, para formar multiplicadores e ajudar a construir um mundo sem violência. “Nessa luta pela paz, nós precisamos de mulheres e homens. Precisamos ainda construir uma nova cultura de respeito à vida das mulheres. E é muito importante fazer essa discussão da violência com recorte racial”, frisou.