Mulher que combateu trabalho escravo é aplaudida em Brasília após 30 anos

Você está visualizando atualmente Mulher que combateu trabalho escravo é aplaudida em Brasília após 30 anos
Encontro de convidados para evento Juntos contra o tráfico de pessoas e o trabalho escravo contemporâneo. Foto:G.Dettmar/Ag.CNJ
Compartilhe

Pureza Lopes Loiola, cuja saga para encontrar o filho, em situação de trabalho escravo, foi contada nas telas de cinema, no filme dirigido por Renato Barbieri, ganhou voz em Brasília na segunda-feira (5/12). Dona Pureza foi aplaudida de pé pelo público que assistiu ao evento “Juntos contra o Tráfico de Pessoas e o Trabalho Escravo Contemporâneo”, promovido, nesta segunda-feira (5/12), pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Recebida pela presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, Dona Pureza ressaltou que foi a primeira vez que foi ouvida na capital federal. Ela relatou que, logo que chegou a uma das fazendas em que acreditava que o filho poderia estar, e viu que os trabalhadores não tinham recebido salário desde que chegaram, identificou a condição de escravidão. “O dinheiro que vocês vão receber é a morte”, disse aos trabalhadores na ocasião.

Em sua fala, a ministra Rosa Weber destacou “a densidade e a gravidade dos temas trazidos à nossa reflexão – tráfico de pessoas e trabalho escravo contemporâneo-, realçados pela arte cinematográfica. Ao reproduzir a vida em sua crueza, a arte joga luz sobre realidades clandestinas, e assim nos estimula e impulsiona com vigor à luta contra a barbárie.”

A presidente do CNJ ressaltou a relevância dos temas do encontro, que também integram as perspectivas e objetivos de sua gestão à frente do Conselho, voltados à “centralidade temática dos Direitos Humanos, cuja dinâmica compreendo prioritária à jurisdição, consideradas as garantias fundamentais de acesso à justiça que se alicerçam no princípio da dignidade da pessoa humana”.

Vida em risco

Durante os anos 1990, quando denunciou o trabalho em situação análoga à escravidão, dona Pureza peregrinou, sem sucesso, entre gabinetes no Congresso Nacional e em audiências com integrantes do Poder Público. Ela precisou voltar ao local dos crimes para juntar provas e, somente após arriscar a própria vida, conseguiu libertar o filho caçula, Antônio Abel, vítima do tráfico humano e obrigado ao trabalho análogo ao da escravidão.

“A nobreza dessa determinação, peculiar às mães, foi fundamental para que esse trágico cenário alcançasse a notoriedade necessária”, afirmou a conselheira do CNJ Jane Granzoto que preside o Fórum Nacional para Monitoramento e Solução das Demandas de Exploração do Trabalho em Condições Análogas a Escravo e de Tráfico de Pessoas (Fontet).

A conselheira recordou que Relatório sobre o Tráfico de Pessoas 2022, publicado pela Embaixada e pelos Consulados dos Estados Unidos no Brasil, mostrou um aumento do número de vítimas do tráfico de pessoas, de 357 para 441, na comparação entre os anos de 2020 e 2021. Ela ressaltou também que o CNJ está empenhado com a erradicação do tráfico de pessoas e o trabalho escravo no país. “Este Conselho está inteiramente comprometido a utilizar todas as ferramentas que estiverem ao alcance para que nenhuma outra mãe viva o drama sofrido pela Dona Pureza”, disse.

Vida nas telas

O diretor do filme Pureza, Renato Barbieri, elogiou o trabalho realizado pela atriz Dira Paes, que deu vida nas telas à protagonista, e a importância da presença de Dona Pureza no evento promovido pelo CNJ. “É a primeira vez que Dona Pureza vem a Brasília e é reconhecida. Ela nem queria ter vindo, porque teve um trauma, não foi bem recebida das outras vezes – nos anos 1990”, disse o cineasta.

Ao lado de Dona Pureza, Dira Paes emocionou-se durante o evento e contou estar envolvida com o tema dos direitos humanos desde os 14 anos, pouco antes de iniciar a carreira de atriz. Desde 2003, ela integra o movimento Humanos Direitos, voltado para o combate ao trabalho escravo e tráfico humano, defesa dos direitos das crianças e adolescentes e também de indígenas e quilombolas. “Quando recebi o convite para fazer o filme, entendi como uma convocação”, declarou.

Texto: Mariana Mainenti
Edição: Sarah Barros
Agência CNJ de Notícias

Macrodesafio - Garantia dos direitos fundamentais