O atropelamento de 17 ciclistas que participavam de um passeio nas ruas da cidade de Porto Alegre/RS, em fevereiro de 2011, foi julgado no Mês Nacional do Júri. O bancário Ricardo Neis foi condenado a 12 anos e nove meses de prisão, em regime fechado, por 11 tentativas de homicídio e cinco acusações de lesão corporal. O réu poderá recorrer da decisão em liberdade.
O caso ganhou repercussão nacional depois que as cenas de Ricardo partindo com o carro para cima de dezenas de atletas ganharam o país. Os ciclistas bloqueavam uma rua durante manifestação do grupo Massa Crítica para estimular o uso do transporte alternativo, quando o carro do acusado colidiu com o pneu de uma bicicleta.
Na versão do acusado, ele acabou cercado pelo grupo e, temendo pela sua vida e a de seu filho de 15 anos, que o acompanhava, tentou arrancar com o veículo. Nesse momento, segundo o relato do acusado, um dos atletas teria quebrado o espelho do carro. “Foi traumático. Confesso que não achava que tinha tantos pela frente. Havia duas, três pessoas no capô. Se eu parasse ia passar em cima delas. Algumas bicicletas ficaram presas no carro e para me livrar delas dei um leve ‘beliscão’ no freio”, afirmou Ricardo.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul, no entanto, refutou essa tese. Segundo a promotora Lúcia Helena Callegari, uma das que participou do julgamento, Ricardo teve a intenção de matar, assumindo o risco, quando investiu com o veículo sobre os ciclistas. “Não foi um acidente e sim uma tentativa de homicídio em massa”, disse.
As perguntas do MP foram centradas no momento do atropelamento, no período da internação de Ricardo e nas multas que ele cometeu enquanto tinha habilitação para dirigir. Os jurados assistiram ao vídeo com cenas do incidente por diversas vezes. Ao fim do depoimento, a promotora perguntou ao réu se ele se arrependia do que havia acontecido, mas, ele permaneceu calado.
Ao advogado que fez sua defesa, Ricardo afirmou que não pretende voltar a dirigir e resumiu em uma frase o sentimento em relação ao ocorrido: “O sentimento era de pavor em relação a mim e ao meu filho, que eu queria proteger.” Ao fim de dois dias de julgamento, os sete jurados deliberaram pela condenação do acusado.
Mês do Júri – O Mês Nacional do Júri, que se encerra nesta quarta-feira (30/11), é uma iniciativa da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), em parceria com o CNJ, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e o Ministério da Justiça. Três tipos de crimes foram priorizados nos julgamentos: homicídios que envolvam violência doméstica, violência policial e os originados em confrontos dentro ou nos arredores de bares ou casas noturnas.
Thaís Cieglinski
Agência CNJ de Notícias