Maria* tem 15 anos e há 10 meses está detida no Centro de Internação Lar Menina Moça, sistema socioeducativo fechado em Cuiabá (MT) para reabilitar menores do sexo feminino que cometeram delito. Desde então, passou por experiências boas e ruins, aprendeu lições e também experimentou sentimentos novos, entre eles, saudade e vontade de se perdoar e ser perdoada.
A família dela não mora em Cuiabá. Assim, nunca recebeu visitas na detenção. O sentimento de abandono permeava a mente de Maria até o dia em que participou de um dos círculos de Justiça Restaurativa e Construção de Paz. Ali, ela começou a aprender mais sobre como manter o respeito no convívio em sociedade e em família, e também como apaziguar relações conflituosas.
Como resultado, ela resolveu que quer rever a mãe e reatar os laços familiares. “Quero falar tudo o que estou sentindo. E eu sinto muita saudade de casa, de minha mãe, da minha irmã e do meu sobrinho. Quero principalmente me reconciliar com a minha mãe e restabelecer os laços familiares, porque eles sempre foram tudo, minha mãe e meu pai”, destaca Maria. O programa a ajuda a “manter a paciência” frente a dificuldades e a “aliviar a carga” pesada que carrega no dia a dia, conta a jovem.
Os círculos são realizados por facilitadoras do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (Nupemec) como método de pacificação e resolução não violenta de problemas. Na quarta-feira (13/4), uma rodada foi realizada no Lar Menina Moça, com nove internas de 14 a 17 anos. O foco foi a convivência entre as colegas.
As atividades começam com a construção de regras que conduzirão o trabalho. Cada uma das meninas tem a chance de estabelecer as suas normas. Foram estabelecidas, entre outras, regras de confiança, paz, sinceridade, consideração pela fala da outra, respeito mútuo, carinho e esperança. Elas também tiveram a oportunidade discutir sobre valores, começando com a palavra respeito.
“Essas meninas enfrentam problemas de relacionamento entre elas e, às vezes, entre elas e pessoas da instituição, além de viver um período muito complexo da adolescência. Hoje estamos trabalhando a construção da paz para melhorar a convivência entre elas mesmas. A ideia é que saibam como apaziguar as relações e, por meio de uma comunicação não violenta, elas consigam transmitir o que precisam dizer e saibam entender o que é dito”, explica a facilitadora Ana Teresa Pereira Luz.
Contexto – A Justiça Restaurativa tem se expandido pelo país, mas apesar de estar sendo colocada em prática há 11 anos, ainda ocorre em caráter experimental. Ela é incentivada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por meio do Protocolo de Cooperação para a Difusão da Justiça Restaurativa, firmado coma a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).
*nome fictício
Fonte: TJMT