Historiadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por meio de um projeto de extensão, estão digitalizando documentos do século XVIII e XIX das comarcas de João Pessoa, São João do Cariri e Mamanguape. O trabalho em João Pessoa já foi concluído, a de São João do Cariri está em curso e, na quarta-feira (16/3), iniciou-se a de Mamanguape. O objetivo é criar acervos digitais e, até agora, mais de 40 mil documentos já foram convertidos.
A proposta de acervos digitais referentes a documentos cartoriais desta época é um projeto pioneiro no Brasil. “É uma inovação e é importante que seja feito. Há pessoas que trabalham com essa documentação que dizem se tratar de papel velho e que deveria ser destruído. Mas isso é memória, é o patrimônio do nosso Estado, é nossa história e não se pode deixar perder assim”, declarou a professora Maria Vitória, uma das historiadoras responsáveis pelo trabalho.
A ideia, explicou Maria Vitória, veio a partir da proposta de uma professora que fazia doutorado na Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos. Ela falou sobre um programa de arquivos ameaçados da biblioteca britânica, que financia projetos de extensão para digitalizar documentos antigos que estão ameaçados devido à ação do tempo e do homem.
O trabalho vai além da digitalização. “Além da identificação da documentação, seleção, higienização, colocação nas cartilhas e digitalização, há também a elaboração de uma síntese de cada documento digitalizado para que o pesquisador tenha conhecimento do que ele possui”, disse.
Caso histórico – Durante a catalogação, um caso que chamou a atenção da professora data do século XIX. Ao ficar viúva, o juiz colocaria como tutor e testamenteiro dos órfãos não a mãe, mas um homem que poderia ser da família ou não. Era a regra da época. No caso encontrado, a mulher não aceitou a possibilidade. Enviou, então, uma carta à rainha de Portugal, país do qual o Brasil era colônia, solicitando a tutela das crianças e dizendo possuir todas as condições de ser responsável pelos bens, filhos órfãos e patrimônio construído com o marido. A rainha aceitou o pedido e determinou que a mãe seria a tutora dos filhos e responsável pelos bens. “Até agora, não há conhecimento de outro caso dessa natureza”, observou a professora.
Participam da equipe dois voluntários dos cursos de História e Arquivologia da UFPB, dois professores doutores em História pela Universidade Vanderbilt, Marshall Eakin e Courtney Campbell, e duas professoras doutoras em história pela Universidade Federal da Paraíba, Maria Vitória e Solange Pereira da Rocha. O trabalho teve início em agosto de 2015 e a previsão é que em julho de 2017 esteja concluído. A UFPB disponibilizará um HD com todos os documentos digitalizados.
Fonte: TJPB