Reconhecidas nacional e internacionalmente, as ambientalistas gaúchas Giselda Escosteguy Castro e Magda Renner são consideradas ícones e pioneiras do movimento ambientalista no Brasil, desde a década de 1960. Ecoaram suas vozes em conferências internacionais, inclusive na Organização das Nações Unidas (ONU), e percorreram vários continentes representando o Brasil e a ONG Amigos da Terra Brasil.
O principal objetivo delas era alertar a sociedade e as autoridades para a necessidade da proteção ambiental, do desenvolvimento sustentável e de mudanças nas políticas públicas em prol do meio ambiente.
“Todos os setores da sociedade se adornaram ou englobaram o vocabulário ecologista. E com esse vocabulário criaram a ilusão de que estão fazendo alguma coisa pela ecologia”, alertava Magda Renner, exigindo mais compromisso com a causa.
A amizade das ambientalistas começou em Porto Alegre, em 1964. Ao longo de três décadas de militância, Giselda Castro e Magda Renner lutaram contra crimes ambientais e de saúde pública. Atuaram em defesa da Amazônia e contra o uso indiscriminado de agrotóxico, denunciando crimes ambientais, além de buscarem a conscientização da população sobre os impactos das atividades humanas no meio ambiente.
“Nós pregávamos: saber consumir para melhor viver. Mas hoje nós dizemos: reaprender a viver para não ser consumida”, defendia Giselda Castro, ao se referir ao consumo consciente.
O legado deixado pelas ativistas Giselda Castro, falecida em 2012, e Magda Renner, em 2016, continua vivo. Elas são destaque no documentário “Substantivo feminino”, que hoje percorre o mundo inspirando pessoas a atuarem em prol de um planeta mais sustentável e saudável.
Conflitos socioambientais
No Poder Judiciário, a juíza da 3ª Vara Cível e Ambiental Milene Aparecida Pereira Beltramini, responsável pelo Juizado Volante Ambiental (Juvam) da comarca de Rondonópolis (MT), é referência no comprometimento e no enfrentamento dos problemas ambientais, das causas e das consequências destes.
Engajada com as causas ambientais há mais de 10 anos, a magistrada, que é especialista em direito ambiental, lida com um grande desafio, visto que o Mato Grosso é o segundo estado brasileiro com maior índice de conflitos socioambientais, de acordo com dados apresentados pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em outubro, durante reunião da série “Justiça e Pesquisa – 2022”.
De acordo com a magistrada, um dos desafios enfrentados recentemente na comarca de Rondonópolis (MT) foram as queimadas no Pantanal, onde 30% do bioma ficou comprometido. “Parte do Pantanal abrange a comarca de Rondonópolis e, como juíza à frente de uma vara ambiental, busquei iniciativas junto aos demais órgãos para tentar socorrer e alimentar os animais feridos, que foram cercados pelo fogo. O esforço foi recompensador: tivemos alguns animais silvestres que se recuperaram na comarca e já retornaram para o seu habitat”, comemorou.
Entre as inúmeras ações promovidas pelo Juvam, destaca-se o projeto “O Rio é Nosso”, que surgiu da necessidade de despertar a consciência da comunidade para a proteção e a despoluição do Ribeirão Arareau, em Rondonópolis (MT). Desde o lançamento desse projeto, em 2015, já foram retirados do afluente mais de 600 toneladas de resíduos. Há, também, a campanha “Diga não às queimadas”, que consiste em conscientizar crianças e adolescentes, por meio de palestras e vídeos educativos, e o projeto de “Coleta seletiva”, que busca incentivar a participação da sociedade no processo de separação e coleta de materiais recicláveis, com o objetivo de minimizar o impacto ambiental.
O juizado atua ainda na apreensão de madeiras ilegais, que são usadas na construção de móveis e, posteriormente, doados às instituições e escolas públicas de Rondonópolis. Além disso, monitora e fiscaliza constantemente os principais rios de Mato Grosso, por meio do patrulhamento fluvial, com a finalidade de garantir a segurança e a proteção dos recursos naturais. “Como juíza, representante de uma vara ambiental, preciso ter os olhos voltados para a necessidade de combater em um processo, reprimir e prevenir”, enfatizou.
Futuro
Na avaliação da magistrada Milene Beltramini, a educação ambiental deve ser o principal pilar para evitar danos à natureza. “Depois que se perde, o meio ambiente se torna algo muito difícil de se recuperar. Diria que é quase impossível. Partindo desse princípio, o Juvam promove constantemente ações de conscientização envolvendo a comunidade na recuperação ambiental”, afirmou.
Giselda Castro, Magda Renner e a juíza Milene Beltramini são exemplos de mulheres comprometidas com um tema vital para a humanidade. Com luta, garra e muita ação, mostram que é possível transformar pensamentos e realidades em prol da sustentabilidade e do futuro das próximas gerações.
Texto: Michelle Martins
Edição: Karina Berardo
Agência CNJ de Notícias