Tive a alegria de conhecer, durante minha última viagem ao Recife para tratar do Mutirão de Negociação Fiscal da Corregedoria em Pernambuco, a Orquestra Criança Cidadã. Trata-se de um projeto social gerenciado pela Associação Beneficente Criança Cidadã (ABCC) que atende gratuitamente 330 jovens, com idade entre 6 e 24 anos, que vivem na Comunidade do Coque, uma das regiões mais carentes da capital pernambucana, e na cidade de Ipojuca.
As crianças que participam do projeto recebem aulas de instrumentos de corda, de sopro, percussão, teoria musical, flauta doce e canto coral. Também têm acesso a apoio pedagógico; atendimento psicológico, médico e odontológico; aulas de inclusão digital; além de fardamento e três refeições diárias.
Fui presenteada com uma apresentação de parte dos jovens, regidos pelo maestro Nilson Galão, que executaram a obra “Chegança”, de Benny Wolkoff, e uma versão original e tocante de “Lamento Sertanejo”, do grande sanfoneiro Dominguinhos e do incomparável Gilberto Gil.
Foi muita emoção ver aqueles jovens mostrando tamanha destreza com seus instrumentos, construindo uma harmonia arrebatadora que emocionou profundamente todos os presentes.
A satisfação foi maior ainda por ter visto o início deste projeto, tocado com carinho e determinação pelo desembargador Nildo Nery dos Santos, ex-presidente do TJPE, meu companheiro de longa data no Judiciário. Testemunhei a perseverança deste homem incumbido de na missão de dar melhores condições de vida às crianças e aos adolescentes que, sem essa oportunidade, poderiam acabar no descaminho como tantos outros no nosso país.
Não apenas por sua importância social, mas também por sua excelência artística, a Orquestra Criança Cidadã já se apresentou nos principais teatros do país e chegou até à Europa. Até o Papa Francisco já foi brindado com uma apresentação exclusiva no Vaticano.
O projeto, que já tem nove anos e conta com o apoio do TJPE e do Exército Brasileiro, está formando instrumentistas que estão se incorporando às principais orquestras do país. Além de especialistas na fina arte de construção de instrumentos na Escola de Formação de Luthier e Archetier – cuja oficina também tive a satisfação de visitar.
Saí encantada da visita ao projeto, não apenas por ver músicos tão refinados provenientes de áreas carentes, mas sobretudo por saber que o caminho proporcionado a esses jovens é a concretização do sonho de um magistrado idealista. É por construir essa realidade tão nobre e edificante que o desembargador Nildo Nery dos Santos e o juiz João Targino – atual coordenador da Orquestra – merecem, de pé, o Nosso Aplauso!