CNJ leva clubes de leitura para o sistema socioeducativo

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Foto: Carlos Williames
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O técnico Josué da Paz chegou ao Centro de Atendimento Socioeducativo Santa Luzia, no Recife, e arrumou os livros sobre a mesa, sabendo que o primeiro encontro seria decisivo. As adolescentes entraram e observaram com curiosidade. “Esses livros foram escolhidos com base no que a gente indicou?”, perguntou uma delas. Josué confirmou. Era o início do Cria das Letras, projeto do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Grupo Companhia das Letras, que leva clubes de leitura a unidades socioeducativas de quatro estados — Pará, Paraná, Pernambuco e Roraima.

O objetivo é garantir que adolescentes em privação de liberdade tenham acesso à literatura como direito fundamental a partir de encontros mediados por profissionais, como é o caso de Josué. Cada unidade recebeu um acervo de 150 títulos, escolhidos a partir de formulário preenchido pelos próprios adolescentes, assegurando que os livros dialoguem com seus interesses e vivências.
Segundo o Censo Nacional de Práticas de Leitura no Sistema Socioeducativo, 40% das unidades não dispõem de bibliotecas e 20% não realizam nenhuma atividade regular de incentivo à leitura. O Cria das Letras também atende a uma demanda dos próprios adolescentes, que indicaram a atualização dos acervos e a implementação dos clubes como prioridades incorporadas na Diretriz Nacional de Fomento à Cultura na Socioeducação, o primeiro documento do país a estabelecer parâmetros para ações culturais voltadas ao sistema socioeducativo.

Foto: Mirella Anastácio

“O incentivo à leitura no sistema socioeducativo é uma forma de estimular que esses adolescentes estabeleçam novas trajetórias, permitindo que o cumprimento da medida traga um sentido de presença positiva do Estado”, destaca o coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF), Luís Lanfredi. “A socioeducação só se realiza quando os adolescentes têm acesso a experiências que ampliem seus horizontes e ofereçam a possibilidade de traçarem uma nova trajetória”, aponta o juiz auxiliar da Presidência do CNJ com atuação no DMF, Edinaldo César Santos.

Diálogo além das páginas

A implementação dos clubes de leitura dentro das unidades socioeducativas vai além de um recurso pedagógico e traz uma nova dinâmica até para os servidores. No Paraná, a mediação do primeiro encontro ficou a cargo de Wellington Filho e Robson, agentes de segurança socioeducativos, acostumados a uma rotina de reforço de regras e protocolos dentro da unidade. “Havia uma certa expectativa e um pouco de apreensão, mas nos surpreendemos positivamente com a interação tão boa e proveitosa com os jovens”, contou Wellington.

No Paraná, quando os adolescentes viram Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MC’s, na mesa, a empolgação foi instantânea. O livro, que reúne as letras do icônico álbum do grupo de rap, já fazia parte da trilha sonora da vida de muitos deles. “A gente viaja nas histórias contadas”, explica Jonatan, de 15 anos, um dos participantes.

Unindo forças para ampliar acessos

O CNJ firmou um Acordo de Cooperação Técnica com o Grupo Companhia das Letras, visando expandir ações de incentivo à leitura e qualificação dos espaços de leitura no sistema socioeducativo e prisional. Além do envio de livros, o acordo prevê a formação de mediadores de leitura, a realização de oficinas de escrita e a criação de eventos que promovam o hábito de leitura durante e depois do cumprimento das medidas socioeducativas.

A diretora do Grupo Companhia das Letras, Julia Schwarcz, explica que a editora já doou 2.600 títulos para projetos relacionados ao contexto de privação de liberdade. “A parceria com o CNJ no Cria das Letras é um passo importante, pois diversifica nossa atuação, que agora abrange também o sistema socioeducativo. O horizonte segue o mesmo: fazer do direito à literatura um caminho para a liberdade”, finaliza.

Texto Renata Assumpção
Edição: Nataly Costa e Débora Zampier
Agência CNJ de Notícias
Macrodesafio - Aprimoramento da gestão da Justiça criminal