Uma tarde com saraus, visitas a museus, exibição de filmes e apresentação de peças de teatro mudou a rotina de adolescentes de 78 unidades socioeducativas em 25 estados brasileiros. Foi o segundo dia da 3.ª edição do Caminhos Literários no Socioeducativo: pelo Direito à Cultura, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) quinta-feira (11/7) – saiba como foi a abertura e sexta-feira (12/7). O evento continua nesta semana, nos dias 16 e 17, com programação exclusiva para adolescentes e profissionais das unidades socioeducativas.
O CNJ acompanhou a programação voltada aos adolescentes em Brasília, São Paulo, Fortaleza, Maceió, Caxias do Sul (RS) e Porto Alegre. Na capital federal, nove jovens vieram de unidades de Goiânia e Anápolis (GO) para passar o dia em Brasília, com tour por monumentos como a Ponte JK, a Torre de TV e a Esplanada dos Ministérios, que a maioria deles estava vendo pela primeira vez. O passeio incluiu ainda uma visita ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde visitaram exposição sobre o Peru e puderam conhecer a história e cultura das antigas civilizações andinas.
“Atividades assim fortalecem tanto o cumprimento da medida como a recuperação desses adolescentes, porque dá a eles uma perspectiva de futuro. Eles ficam autoconfiantes, ganham motivação. Muitos me falaram também de uma sensação de pertencimento”, afirma a juíza da comarca de Luziânia (GO), Célia Regina Lara, acompanhou a atividade. Depois da exposição, cada um dos jovens recebeu um exemplar autografado por Tiago Cantalice do livro A Curiosa Cidade, que trata sobre Brasília. Ronaldo*, um dos participantes do passeio, disse que a atividade trouxe “desenvolvimento e amadurecimento” e que teve a oportunidade de “conhecer histórias e culturas diferentes”.
As ações de acesso à cultura no socioeducativo têm sido trabalhadas pelo CNJ por meio do programa Fazendo Justiça, parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em iniciativas que incluem desde o subsídio técnico à construção de normativas até a organização de eventos nacionais como o Caminhos Literários.
São Paulo com livros e poesia
Ainda dentro da programação do evento, três unidades da Fundação Casa, em São Paulo, realizaram atividades voltadas exclusivamente para os jovens em cumprimento de medida. Na unidade Juquiá, que fica no centro da cidade, foi realizado o sarau Voz na Medida, com a presença do rapper e escritor Ciano e a poetisa e fundadora da editora Jandaíra, Lizandra Magon de Almeida. Eles contaram sobre como passaram a se envolver com a produção de livros, desde zines artesanais até criação de uma editora profissional. Também esteve presente rapper e escritor Sagat B, que contou sobre sua experiência com a privação de liberdade: “Eu saí e entrei três vezes do sistema prisional, fui inteligente e aprendi com meus erros. Mas quero que vocês sejam sábios e aprendam com os erros dos outros, como a minha história”.
Os quase 50 adolescentes presentes participaram interagindo, cantando e declamando suas poesias e músicas. As canções tinham temas diversos: vontade de voltar à liberdade, enfrentamento do racismo, perdas e mortes de filhos e mães. “Para mim, cultura é tudo. É desde religiosidade até um prato de comida. Acho que com a cultura a gente pode mudar forma de ver o mundo, e isso é muito importante para gente que está no socioeducativo”, disse Fabrício*, um dos adolescentes envolvidos na programação.
Fortaleza: leitura de cordéis e música
No Centro Socioeducativo do Canindezinho, em Fortaleza, os adolescentes e jovens realizaram um sarau cultural, com apresentações de músicas, dança, leitura de poesias e cordéis. A sala estava enfeitada com desenhos e poesias elaboradas pelos socioeducandos. “Esse é um momento em que a gente pode expressar nossos sentimentos e nossas ideias de várias formas, por meio da arte. Eu gostei muito de cantar para essas pessoas que eu ainda não conhecia”, ressaltou Jorge*, adolescente em cumprimento de medida socioeducativa que cantou uma música autoral no evento.
Juíza titular da Vara Única da Infância e Juventude de Sobral (CE) e integrante do Grupos de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e de Execução de Medidas Socioeducativas (GMF) do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), Kathleen Nicola Kilian, acompanhou toda a atividade. “É nítido o impacto positivo nos jovens quando têm contato com a cultura e desenvolvem atividades artísticas, muitas vezes descobrindo talentos para escrita, fala e música que nem imaginavam. Eles começam a se considerar protagonistas, construtores de suas próprias vidas,” comentou. Para a diretora da unidade, Ariane Lavínia, “o Caminhos Literários possibilita que a gente intensifique as ações culturais na unidade, oferecendo aos adolescentes novas oportunidades de expressão”.
Hip hop e teatro em Alagoas
As adolescentes e jovens da Unidade de Internação Feminina (UIF) em Maceió assistiram a uma peça de teatro, enquanto os jovens das Unidades de Internação Masculina I e II receberam uma oficina de hip-hop e cultura. “Uma atividade como essa nos incentiva a participar da cultura de rima. Falando por mim, que gosto muito de escrever e rimar, foi muito interessante, principalmente por incentivar a garotada a compartilhar conhecimento e construir uma nova história, mais rica culturalmente”, comentou o adolescente Victor*, de 17 anos de idade.
Mágica no Rio Grande do Sul
Três unidades socioeducativas gaúchas participaram do segundo dia do 3.º Caminhos Literários. Em Caxias do Sul, adolescentes do Centro de Atendimento Socioeducativo Regional assistiram ao documentário Meu Norte é a Norte, documentário sobre cultura territorial e a zona norte da cidade, seguido de uma roda de conversa. Na unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) de Uruguaiana, o show de talentos contou com apresentações de dança, teatro, declamação de poesia e até ilusionismo. O mesmo aconteceu no Centro de Atendimento Socioeducativo Feminino (CASEF) de Porto Alegre, que recebeu o mágico Edmilson Carvalho em apresentação exclusiva para os socioeducandos da unidade.
*Os nomes dos adolescentes foram alterados
Texto: Isis Capistrano, Natasha Cruz, Pedro Malavolta e com informações de Agência Alagoas e TJRS.
Edição: Nataly Costa
Agência CNJ de Notícias