O transtorno do espectro autista (TEA) não é uma doença, mas sim uma hipersensibilidade aos estímulos do ambiente. A observação é da escritora Kenya Diehl, palestrante da 1ª edição do Ciclo de Debates da Comissão Permanente de Políticas Sociais e de Desenvolvimento do Cidadão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O evento foi realizado nessa quinta-feira (30/6) e teve o autismo como tema.
Kenya Diehl foi diagnosticada com TEA aos 9 anos de idade e, hoje, aos 39, além de escritora, é palestrante e consultora no assunto. Ela explicou que todas as pessoas com autismo precisam de acompanhamento permanente, mas não todas necessitam fazer uso de medicação. Segundo Diehl, o autismo tem níveis de intensidade e o ideal é que a pessoa possa desenvolver suas habilidades ao máximo respeitando suas características e também as particularidades do transtorno. Para tanto é importante a conscientização de toda a sociedade e capacitação de profissionais, principalmente nas áreas de educação e saúde.
Willian Chimura, ativista e professor na Academia do Autismo, também tem TEA, contou que muitas vezes suas dificuldades e déficits não são respeitados porque ele está no nível 1, considerado o mais brando. “Ah, ele não aprende, não para quieto na sala, não tem o que fazer. Mas tem o que fazer, todas as pessoas aprendem, sempre há o que fazer.” Ele defende que é preciso que o Estado desenvolva mais políticas públicas para auxiliar a conscientização sobre o tema e garantir a inclusão das pessoas autistas na sociedade.
Sobretudo para as famílias mais humildes, o auxílio do poder público é fundamental, como aponta Fátima de Kwant, escritora, palestrante e criadora do projeto internacional de conscientização do autismo, o Autimates. A escritora argumenta que todos merecem um tratamento digno e de qualidade e, diante da complexidade do autismo, é inaceitável que os pais ainda tenham de correr atrás dos seus direitos. “A gente precisa desse olhar humano para essas famílias – mais humildes, sem acesso aos médicos -, porque sem isso elas vão ficar à margem.”
A advogada Fabiani Borges conhece essa realidade de perto. Cofundadora do Coletivo Autimais, está acostumada a receber familiares de autistas em busca de apoio. Na maioria dos casos, são famílias constituídas apenas pela mãe e sem recursos financeiros. Segundo Fabiani, a quantidade de mães que chegam à porta da Autimais sem informação sobre o transtorno é enorme. “É comum sentirem-se sozinhas quando recebem o diagnóstico do médico e logo pensam que o mundo acabou.”
A advogada, mãe de filho autista e esposa de autista, sonha com o dia em que os órgãos públicos possam levar informação de qualidade com evidência científica sobre o TEA para a sociedade. Além disso, defende políticas públicas que possam ofertar a terapia específica para o autismo no Sistema Único de Saúde e mais incentivo à inclusão de pessoas autistas no mercado de trabalho.
A abertura do debate foi feita pelo presidente da Comissão Permanente de Políticas Sociais e de Desenvolvimento do Cidadão, conselheiro Mário Goulart Maia, que prestou uma homenagem às mães de filhos e filhas autistas. “Sem vocês, essa causa certamente passaria despercebida. Ai daqueles que mexem com as mães de autistas.” A Comissão Permanente tem entre suas competências propor políticas judiciárias de promoção de direitos sociais, em especial relacionados à saúde, à educação e à tutela do meio ambiente.
Texto: Thayara Martins
Edição: Thaís Cieglinski
Agência CNJ de Notícias
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