Agentes penitenciários do Acre ameaçados por facções do crime

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Em fevereiro deste ano, o agente prisional Romário Alexandrino foi assassinado por cinco homens encapuzados que invadiram sua casa e fizeram 17 disparos. Segundo a imprensa local, suspeita-se de uma retaliação do Comando Vermelho a uma revista feita no pavilhão onde se concentram os homens recrutados pela organização, horas antes do crime. 

De acordo com depoimento de policiais ao CNJ, durante a inspeção do Grupo Especial de Monitoramento e Fiscalização (GEMF) do sistema prisional da Região Norte à ala onde o agente morto trabalhava, ocorreram outros três assassinatos de servidores penitenciários desde outubro do ano passado, quando a guerra entre facções ganhou visibilidade após um motim vitimar quatro presos do Complexo Penitenciário Francisco D’Oliveira Conde, em Rio Branco.  

Além dos homicídios, criminosos também atentaram contra a vida de funcionários do sistema prisional. Em um episódio, ocorrido próximo ao motim de outubro, um agente teve o carro incendiado diante da sua casa. “Quando saiu para ver o que era, atiraram em direção a ele, que só não morreu porque se atirou no chão e revidou atirando. Ele deixou a casa ainda naquela noite. Vendeu a casa e acabou se mudando. Está afastado do serviço na unidade até hoje porque não tem condições psicológicas de trabalhar aqui dentro”, afirma um colega, sem revelar seu nome por temer também virar alvo de bandidos. 

A deflagração do conflito entre o Comando Vermelho, de um lado, e o PCC, Bonde dos 13 e Ifara (duas gangues locais aliadas à facção paulista), do outro, escancarou a precariedade das condições de trabalho de quem lida diária e diretamente com pessoas que a sociedade prefere nem ver, a população prisional.

 “Só estou fardado porque comprei farda. Toda vez que venho fazer o plantão, tenho de pedir arma emprestada à PM”, afirma um agente, vestido com farda preta e uma espingarda calibre 12, com quatro balas de borracha e três letais. Agradece por nunca ter precisado usar a arma. “Se tivesse de usar, tinha de sair daqui por causa da vingança”, diz. 

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Com os olhos marejados, um colega admite pensar em mudar de profissão, depois que os conflitos entre gangues tornou-se uma ameaça a ele e aos filhos de 2 e 11 anos de idade, cujos nomes estão tatuados no antebraço. “Penso em fazer outro concurso, sim. Qualquer outra área com remuneração igual ou melhor. Não precisa ser na área da segurança pública, não”, afirma. Embora acredite que a situação está mais tranquila em relação ao final do ano passado, vigiar o pavilhão controlado por uma das maiores facções do país, exige dos agentes um estado de tensão permanente. “Na semana passada foram duas tentativas de fuga em pavilhões vizinhos”, diz. 

Um dos efeitos da tensão entre criminosos inimigos dentro do Complexo Penitenciário Francisco D’Oliveira Conde foi a separação deles em prédios diferentes. Os cerca de 550 homens do Comando Vermelho amontoados em um dos pavilhões da Unidade de Recolhimento Provisório equivalem a quase toda a capacidade da Unidade Prisional de Quinari (580 pessoas), em Senador Guiomard, município a 24 quilômetros ao sul de Rio Branco.

A superlotação das 35 celas e o estado decadente do pavilhão, um prédio antigo com paredes carcomidas pelos próprios presos e pela ação do tempo, exigem da equipe de segurança algumas precauções. Nem o responsável pelo sistema prisional acreano, Martin Hessel, soube precisar a data de inauguração do complexo penitenciário. “Mais de 30 anos certamente tem”, disse ele aos membros do CNJ.  

A retirada de presos para banho de sol fica a cargo de um preso eleito entre os encarcerados, o faxineiro, que tem a responsabilidade de abrir e fechar as celas diariamente, uma concessão aberta ao perigo que os agentes confessam com desconforto.  

“A gente não abre cela, só o faxineiro. A gente precisaria dessa quantidade de policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) diariamente só para fechar e abrir as portas das celas”, disse um agente, em referência aos oito policiais da tropa de choque que acompanham a inspeção do CNJ às prisões de Rio Branco, munidos de armamento pesado.

 

Manuel Carlos Montenegro 

Agência CNJ de Notícias