O estado de São Paulo registrou, no ano passado, o desaparecimento de 20.346 pessoas e a localização de metade delas, de acordo com a Polícia Civil. Também na área da Segurança Pública, outro desafio é o alto índice de reincidência criminal, que especialistas estimam ser de 70% em todo o País. Para contribuir no combate a essas duas mazelas sociais, uma estratégia está sendo desenvolvida pelo Instituto Liberty, de Campinas/SP. A entidade, com o apoio do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), emprega egressos do sistema carcerário e dependentes químicos na venda de produtos de limpeza que trazem, nas embalagens, fotos de crianças desaparecidas. “É uma forma de ajudar famílias a localizar seus entes queridos e também de gerar renda lícita para quem quer reconstruir a vida com dignidade, longe do crime”, explica o coordenador do instituto, Marcos Silveira.
O Liberty foi fundado há sete anos. Desde então, em parceria com entidades públicas e privadas, conseguiu trabalho e renda para cerca de 200 pessoas. São egressos do sistema carcerário, condenados estrangeiros, dependentes químicos, portadores do vírus HIV e pessoas em situação de rua. A entidade sobrevive, basicamente, de doações. Além disso, recebe verbas provenientes de penas pecuniárias, com base na Resolução CNJ n. 154/2012, que autoriza o Poder Judiciário a repassar esse tipo de recursos para entidades com fim social.
No momento, segundo Marcos Silveira, 12 pessoas visitam residências de Campinas vendendo produtos como água sanitária, alvejante e detergente. Cada embalagem traz fotos de crianças junto com o número de telefone (11) 3337-3331 pelo qual se pode fazer contato com a organização não governamental Mães da Sé, de São Paulo, dedicada à busca e defesa de crianças desaparecidas. Na mesma embalagem, há também rótulos do Liberty e da empresa Vereda, fabricante dos produtos, além de informações sobre as vantagens da compra. O texto diz: “Adquirindo este produto, você estará tirando pessoas do mundo das drogas; apoiando pessoas em situação de rua; dando oportunidade para egressos; ajudando a diminuir a violência e a criminalidade”.
Os recursos obtidos com as vendas são divididos entre a empresa fabricante, o Liberty e os vendedores. Segundo Marcos Silveira, a iniciativa poderá ser levada para outras cidades brasileiras, como Brasília/DF, onde, em maio deste ano, foi inaugurada a primeira sede do instituto fora de Campinas. “Estamos fazendo contatos com outras fabricantes de limpeza, dentro e fora de São Paulo, propondo essa mesma parceria. É uma estratégia muito simples, mas que pode atingir resultados muito importantes para a sociedade”, afirmou.
O coordenador destacou que as 12 pessoas empregadas na venda de produtos de limpeza fazem parte de um total de 250 que estão sendo atendidas em diferentes iniciativas do instituto, como, por exemplo, a oferta de trabalho em uma fábrica de tijolos ecológicos. Há também o atendimento a dependentes químicos na Comunidade Terapêutica Liberty, localizada em Campinas, onde os pacientes são assistidos por psicólogos e assistentes sociais que trabalham como voluntários. Como reconhecimento a ações como essas, o CNJ concedeu ao Liberty, em 2010, o selo do Começar de Novo, programa do Conselho que administra oportunidades de reinserção social.
Jorge Vasconcellos
Agência CNJ de Notícias