A importância da utilização de critérios de avaliação fundamentados em evidências na aplicação das medidas socioeducativas pelos magistrados brasileiros

Autores

  • Rafael Souza Cardozo Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam); Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE)
  • Maria Cristina Maruschi Universidade de São Paulo (USP)

Palavras-chave:

Medidas socioeducativas., Critérios para aplicação., Discricionariedade dos juízes., Instrumento de avaliação de risco e necessidade., Modelo RNR.

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar qualitativa e quantitativamente os critérios utilizados pelos magistrados na definição da medida socioeducativa e a importância de a decisão judicial ser fundamentada em evidências. Com base em uma pesquisa empírica, verificou-se a discricionariedade dos juízes, a disparidade de tratamento tanto na forma como no rigor na aplicação das medidas socioeducativas e a não utilização de um instrumento de avaliação de risco e necessidades, o que acarreta uma prevalência do viés punitivista em detrimento do ressocializador, além da subvalorização de fatores associados à reincidência. A adoção de um instrumental é medida premente que pode contribuir para a efetividade das medidas socioeducativas, potencializando a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rafael Souza Cardozo, Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam); Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE)

Mestrando pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam/STJ) e Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

Maria Cristina Maruschi, Universidade de São Paulo (USP)

Doutoranda pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Mestrado em Psicologia pela Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto), Psicóloga Judiciária (TJSP) e professora.

Referências

ALARCÓN, Paula. Ficha de Evaluación de Riesgos Y Recursos de Desadaptación Social Adolescente - FER-R 3.0. Departamento de Psicologia de la Universidade de Frontera, Chile, 2013. Disponível em: https://intranet2.ciudaddelnino.cl/wp-content/uploads/2020/05/FER-R_2019.pdf. Acesso em: 14 mar. 2022.

ANDREWS, D.A.; et al. Does correctional treatment work? A clinically relevant and psychologically informed meta-analysis. Criminology, v. 28, p. 3 69-404, 1990.

ANDREWS, D. A.; BONTA, J. (1994) The Psychology of criminal conduct. Canadá: LexisNexis, 5. ed., 2010.

ANDREWS, D. A.; BONTA, J. Rehabilitating criminal justice policy and practice. Psychology, Public Policy, and Law, v. 16, n. 1, p. 39-55, 2010.

ANDREWS, D. A.; BONTA, J.; HOGE, R. D. Classification for effective rehabilitation: Rediscovering Psychology. Criminal Justice and Behavior, v. 17, n. 1, p. 19–52, 1990.

BAGLIVIO, M. T. et al. Risk assessment trajectories of youth during juvenile justice residential placement: Examining risk, promotive, and “buffer” scores. Criminal Justice and Behavior, v. 44, n. 3, p. 360–394, mar. 2017.

BAIRD, Chris et al. A comparison of risk assessment instruments in juvenile justice. US Department of Justice, 2013. Disponível em: https://www.ncjrs.gov/pdffiles1/ojjdp/grants/244477.pdf. Acesso em: 25 ago. 2021.

BENBOURICHE, Massil; VANDERSTUKKEN, Olivier; GUAY, Jean-Pierre. Les principes d’une prévention de la récidive efficace: le modèle Risque-Besoins-Réceptivité. Pratiques Psychologiques, Canadá, v. 21, n. 3, set., p. 213-304, 2015.

BORUM, Randy; BARTEL, Patrick; FORTH, Adelle. Structured assessment of violence risk in youth (SAVRY): professional manual. Flórida: PAR, 2006.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8.069/1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 28 jan. 2021.

BRASIL. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Lei n. 12.594/2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm. Acesso em 16 mar. 2022.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Reentradas e reiterações infracionais: um olhar sobre os sistemas socioeducativo e prisional brasileiros. Brasília: CNJ, 2019. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/03/Panorama-das-Reentradas-no-Sistema-Socioeducativo.pdf. Acesso em: 20 jul. 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 367/2021, de 19 de janeiro de 2021. Dispõe sobre diretrizes e normas gerais para a criação da Central de Vagas no Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo, no âmbito do Poder Judiciário. Brasília: CNJ, 2021. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3679. Acesso em: 28 ago. 2021.

CHESTA, Sergio. A. Características psicométricas del inventario de riesgos y necesidades vinculados con factores criminogénicos (IRBC). (Dissertação de Mestrado) – Faculdade de Educação e Humanidades. Universidad de la Frontera, Chile, 2009.

COUPER, Mick. P. New developments in survey data collection. Annual Review of Sociology, Michigan, v. 43, p. 121-145, jul. 2017.

CULLEN, Francis. T. The twelve people who saved rehabilitation: how the science of Criminology made a difference: the American society of criminology 2004 presidential address. Criminology. University of Cincinnati, v. 43, n. 1, p. 1-42, 2005.

DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara Amorim. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado. Curitiba: Ministério Público do Estado do Paraná, 2020.

FARRINGTON, D. P. Introduction to Integrated Developmental and Life-Course Theories of Offending. In: Farrington, D. P. (2005). Integrated Developmental & Life-Course Theories of Offending: Advances in Criminological Theory. Transaction Publishers, New Brunswick, USA and London, Reino Unido, 2005.

FEFERBAUM, Marina; QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Metodologia da pesquisa em Direito: técnicas e abordagens para elaboração de monografias, dissertações e teses. Saraiva, edição do Kindle. 2019.

GARRIDO, V.; LÓPEZ, E.; SILVA, T. Translation into Spanish of the Youth Level of Service/Case Management Inventory. Valência: Tirant lo Blanch, 2004.

GRIEGER, L; HOSSER, D. Which risk factors are really predictive? An analysis of Andrews and Bonta’s “central eight” risk factors for recidivism in German youth correctional facility inmates. Criminal Justice and Behavior, 41(5), 613-634, 2014. https://doi.org/10.1177/0093854813511432

HOGE, Robert. D.; ANDREWS, Don. A. YLS/CMI: Youth Level of Service/Case Management Inventory: user´s manual. Canadá e Estados Unidos da América: Mult-Health Systems Inc, 2005.

KOEHLER, A. J.; LÖSEL, F.; AKOENSI, T. D.; HUMPHREYS, D. K. A systematic review and meta-analysis on the effects of Young ofender treatment programs in Europe. J. Exp. Criminol, v. 9, p. 19-43, 2013.

KOETZLE, D.; MELLOW, J.; PIÑOL, D.; PUGLIESE, K. Guia práctica para la evaluación de riesgos y necessidades de los jóvenes em América Latina y el Caribe. Washington, DC: American Institutes for Research & John Jay College of Criminal Justice, 2021.

LE BLANC, M. Un paradigme développemental pour la criminologie : développement et autorégulation de la conduite déviante. Criminologie, v. 43, n. 2, p. 401-428, 2011.

LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Malheiros, 2006.

LOWENKAMP, C. T.; LATESSA, E. J. Understanding the Risk Principle: How and Why Correctional Interventions Can Harm Low-Risk Offenders. Topics in Community Corrections, n. January, p. 3–9, 2004.

MARUSCHI, Maria Cristina. Avaliação de adolescente em conflito com a lei a partir dos conceitos de risco e necessidade associados à persistência da conduta infracional. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, Ribeirão Preto, 2010.

MARUSCHI, Maria Cristina; BAZON, Marina Rezende. Justiça juvenil: a aplicação e a execução das medidas socioeducativas pelos parâmetros do modelo “Risco-Necessidade-Responsividade”. In: Prêmio Innovare: 10 anos – a justiça do século XXI, v. 1, 2014. Rio de Janeiro: Instituto Innovare, 2014.

MARUSCHI, Maria Cristina; ESTEVÃO, Ruth; BAZON, Marina Rezende. Aplicação de medidas socioeducativas em adolescentes: avaliação auxiliar às tomadas de decisão. Psico, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 453-463, jul./set. 2013.

MARUSCHI, Maria Cristina; ESTEVÃO, Ruth; BAZON, Marina Rezende. Risco de persistência na conduta infracional em adolescentes: estudo exploratório. Estudos de Psicologia, Campinas, 29 (Supl.), p. 679-687, out.-dez. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/YzqSt4nGs6BTNH8cvLqGHkm/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 28 ago. 2021.

MOFFITT, T. E. Adolescence-limited and life-course-persistent antisocial behavior: A developmental taxonomy. The Termination of Criminal Careers, v. 100, n. 4, p. 405–432, 2017.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Assembleia Geral. Resolução 40/33, de 29 de novembro de 1985. Disponível em: https://acnudh.org/wp-content/uploads/2012/08/Regras-M%C3%ADnimas-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas-para-a-Administra%C3%A7%C3%A3o-daJusti%C3%A7a-da-Inf%C3%A2ncia-e-da-Juventude-Regra-de-Beijing.pdf. Acesso em: 2 out. 2021.

PEREIRA JÚNIOR, Marcus Vinícius. Sistema socioeducativo brasileiro em tempos de pandemia de Covid-19: justiça 4.0 e a avalição das políticas do judiciário. Revista do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Norte. Natal/RN, v. 1, n. 1, jun./dez. 2021.

PIMENTEL, Alberto et al. Estudo normativo da versão portuguesa do YLS/CMI: inventário de avaliação do risco de reincidência e de gestão de caso para jovens. Análise Psicológica, v. 33, n. 1, p. 55-71, 2015.

ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da Criança e do Adolescente: comentado artigo por artigo. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

SHERMAN, L. W.; STRANG, H. Verdicts or Inventions? Interpreting Results from Randomized Controlled Experiments in Criminology. American Behavioral Scientist, v. 47, n. 5, p. 575–607, 2004.

VALLÈS-PORT, Leon; HILTERMAN, Ed. SAVRY: manual per a la valoració estructurada de risc de violència en joves. Barcelona: Centre d’Estudis Juridics i Formació Especialitzada del Departament de Justicia, Generalitat de Catalunya, 2006.

VIEIRA, Tracey A.; SKILLING, Tracey A.; PETERSON-BADALI, Michele. Matching court-ordered services with treatment needs: predicting treatment success with young offenders. Criminal Justice and Behavior, v. 36, n. 4. p. 385-401, abr. 2009.

VINCENT, Gina M. et al. Impact of risk/needs assessment on juvenile probation officers’ decision making: importance of implementation. Psychology, Public Policy and Law. Washington, American Psychological Association, v. 18. n. 4, p. 549-576, 2012.

YOUTH JUSTICE BOARD, Asset. An Assessment Framework for Young People Involved in the Youth Justice System. Youth Justice Board, London, 2003.

WORMITH, J. S. The legacy of D. A. Andrews in the field of criminal justice: How theory and research can change policy and practice. International Journal of Forensic Mental Health, v. 10, n. 2, p. 78–82, 2011.

Downloads

Publicado

2023-06-20

Como Citar

SOUZA CARDOZO, Rafael; MARUSCHI, Maria Cristina. A importância da utilização de critérios de avaliação fundamentados em evidências na aplicação das medidas socioeducativas pelos magistrados brasileiros. Revista CNJ, Brasília, v. 7, n. 1, p. 123–138, 2023. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/ojs/revista-cnj/article/view/299. Acesso em: 16 jul. 2024.

Edição

Seção

Artigos